domingo, 1 de novembro de 2009

Coco Antes de Chanel

Segue crítica do filme. Ainda não assisti, mas certamente o farei. Seja como for, Chanel. O nome diz por si só.

Filme suaviza a biografia de Chanel
Longa foca na juventude da estilista e contradiz espírito revolucionário

A relevância de Gabrielle "Coco" Chanel (1883-1971) para a história da moda adquiriu, por diversas razões, uma exagerada dimensão nos últimos tempos. "Coco Antes de Chanel", de Anne Fontaine, é mais uma peça do processo de mitificação da estilista. Certamente, Chanel teve um papel importante, mas não foi a única a protagonizar a revolução da moda no início do século 20. Poiret já havia lutado contra o espartilho e foi o primeiro estilista a associar sua "maison" a um perfume. Outros poderiam ser lembrados, como Vionnet e Schiaparelli.
Chanel tem, no entanto, duas vantagens sobre os seus concorrentes. Nenhum deles foi tão moderno e antinostálgico. Ela percebeu com mais clareza que as mudanças por que passava a Europa não eram só uma troca de estilo e de convenções: um mundo desmoronava.
E poucos tiveram uma vida tão romanesca quanto a dela. A começar da infância -muito dickensiana-, quando foi entregue pelo pai a um orfanato. Na juventude, a vida de Chanel parece um enredo de Zola, com seu périplo atribulado como amante de milionários. Na maturidade, o sucesso a transforma numa personagem fitzgeraldiana, que transita entre o "grand monde" e o meio artístico de vanguarda, mas arrastando o peso de uma origem triste. Seu envolvimento com o nazismo é uma novela a ser escrita.
Fontaine se concentra na juventude. Descreve Chanel como uma doce arrivista, que deseja a qualquer preço conquistar seu lugar ao sol. A personagem é construída para seduzir o espectador, não para incomodá-lo com as contradições de seu caráter. Audrey Tautou cumpre a função, criando uma Chanel cativante, embora plana. O roteiro é hábil, mas acadêmico, como as imagens.
Fontaine opta por edulcorar a biografia de Chanel e revesti-la de enfeites cinematográficos. No plano formal, o filme acaba por contradizer o próprio espírito "revolucionário" da estilista -antissentimental, avesso a rebuscamentos e corajosamente disposto a destruir consensos e disseminar a ruptura.

Alcino Leite Neto, Editor de Moda da Folha de S. Paulo

--------------------------------------------------------------------------------
COCO ANTES DE CHANEL

Direção: Anne Fontaine
Com: Audrey Tautou, Benoît Poelvoorde e Alessandro Nivola
Produção: França, 2009

Nenhum comentário: